Plantas medicinais demonstram ação contra a bactéria do greening em citros
Existem estudos que investigaram extratos de plantas com atividade in vitro contra a bactéria responsável pelo greening (Candidatus Liberibacter asiaticus, CLas) — ainda que, até o momento, essas pesquisas sejam preliminares e em laboratório. Aqui estão os principais destaques:
Plantas cujos extratos já demonstraram atividade contra CLas (in vitro)
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Orégano, tomilho, canela, cúrcuma e "Christmas bush"
Em testes com o microrganismo surrogado Liberibacter crescens, cinco extratos vegetais — orégano (Origanum vulgare), tomilho (Thymus vulgaris), canela (Cinnamomum aromaticum), cúrcuma (Curcuma longa) e “Christmas bush” (Alchornea cordifolia) — apresentaram inibição significativa MDPI.
Depois, esses mesmos extratos foram testados com discos foliares contendo CLas e reduziram consideravelmente o título bacteriano, com orégano, canela e cúrcuma inclusive superando a eficácia do antibiótico estreptomicina no experimento MDPI.
Um ponto importante: houve também indícios de fitotoxicidade (efeito adverso às folhas), o que exige cautela MDPI. -
Extrato aquoso de folha de carvalho (Quercus hemisphaerica)
Um estudo mostrou que o extrato aquoso de folhas de carvalho reduziu o título de CLas em plantas cítricas infectadas, além de melhorar parâmetros fisiológicos como condutância estomática, teor de clorofila e absorção de nutrientes PubMedCoLab. Isso sugere não só uma ação antibacteriana, mas também um possível efeito restaurador nas plantas doentes.
Outras abordagens promissoras (não necessariamente plantas, mas naturais)
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Peptídeos antimicrobianos (AMPs)
Pesquisadores identificaram AMPs como o Plantaricin JLA-9, Darobactin e outros, capazes de inibir bactérias relacionadas, pelo menos no sistema modelo em surrogates como L. crescens MDPI. Embora não sejam extratos vegetais, são compostos naturais com potencial biotecnológico. -
Outros compostos naturais ou derivados
Um estudo identificou compostos diversos com atividade contra CLas em plantas experimentais, como:-
NIC (nicotina) aplicada junto com termoterapia;
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BSO, que induz espécies reativas de oxigênio;
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SFC, um lipopeptídeo de origem biológica com baixa fitotoxicidade;
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Compostos derivados de tetraciclinas (EBI-601 e EBI-602) com menor toxicidade;
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Óleos essenciais denominados CARV e PCY, com atividade bactericida e potencial para formulários nanoemulsionados PMC.
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Resumo comparativo
Planta/Composto | Atividade | Limitações / Observações |
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Orégano, tomilho, canela, cúrcuma, Christmas bush | Redução significativa de CLas in vitro | Fitotoxicidade potencial |
Carvalho (Quercus hemisphaerica) | Redução do título + melhora fisiológica | Estudo promissor, mas isolado |
AMPs (Plantaricin JLA-9, etc.) | Inibição de modelos bacterianos | Ainda em fase experimental |
NIC, BSO, SFC, EBI-601/602, CARV, PCY | Atividade antibacteriana, formulados variados | Requerem mais testes em campo |
Conclusão
Sim, há plantas medicinais cujos extratos demonstraram ação contra CLas em laboratório, como orégano, canela, cúrcuma, tomilho, Christmas bush e extratos de carvalho. Porém, a maioria desses resultados é in vitro, e vários desafios permanecem — como a fitotoxicidade e a necessidade de validação em condições reais de campo.
O que é CLas?
CLas é a sigla usada na pesquisa para a bactéria que causa o greening:
👉 Candidatus Liberibacter asiaticus
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Candidatus → termo usado quando o microrganismo não pode ser cultivado facilmente em laboratório, mas sua existência é confirmada por técnicas moleculares.
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Liberibacter → gênero da bactéria.
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asiaticus → espécie (essa é a principal que causa o greening no Brasil e em grande parte do mundo).
Além dela, existem outras espécies relacionadas:
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Candidatus Liberibacter africanus (encontrada na África)
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Candidatus Liberibacter americanus (foi detectada no Brasil, mas hoje é rara — acabou sendo “substituída” pela asiaticus, que é mais agressiva).
Então, quando os artigos falam em CLas, estão se referindo especificamente à bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus, a principal responsável pelo greening nos citros.
E como é aplicado essas substâncias nas plantas nesses estudos?
🌱. Nos estudos que testaram plantas medicinais e outros compostos contra o CLas, as formas de aplicação variaram bastante. Vou resumir os principais métodos usados até agora:
1. In vitro (sem planta inteira)
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Muitos testes iniciais foram feitos em tubos de ensaio ou discos foliares.
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Exemplo: extratos de orégano, cúrcuma, canela, tomilho foram aplicados diretamente em discos de folha contendo CLas. Isso permitiu ver se reduziam a quantidade de bactéria em tecido vegetal pequeno, sem precisar da planta inteira.
2. Pulverização foliar
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Alguns trabalhos aplicaram os extratos diretamente sobre as folhas, como se fossem um inseticida foliar.
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O objetivo foi ver se os compostos penetravam pelo tecido e chegavam até o floema, onde a bactéria vive.
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Problema: muitos apresentaram fitotoxicidade (queima de folhas, manchas), principalmente com óleos essenciais em doses altas.
3. Infiltração no pecíolo ou disco foliar
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Técnica em que a substância é injetada com seringa no pecíolo (base da folha).
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Esse método leva o produto diretamente para dentro do floema, simulando melhor o caminho natural.
4. Irrigação / aplicação no solo
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No estudo com carvalho (Quercus hemisphaerica), o extrato aquoso das folhas foi aplicado via irrigação no solo, absorvido pela raiz.
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Resultado: houve redução significativa do CLas na planta inteira e melhora na fisiologia (clorofila, condutância estomática, nutrientes).
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Essa foi uma das primeiras evidências de que compostos naturais poderiam realmente circular e agir em planta completa, não só em laboratório.
5. Injeção no tronco (mais comum com antibióticos)
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Alguns estudos testaram antibióticos ou derivados aplicados por injeção direta no tronco da árvore, para que fossem carregados pelo xilema até o floema.
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Embora não seja “planta medicinal”, esse método mostra que substâncias com baixa penetração foliar podem ser levadas assim.
📌 Resumo:
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Óleos essenciais e extratos de especiarias (orégano, canela, cúrcuma) → aplicados em discos foliares ou pulverizados nas folhas.
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Extrato de carvalho → aplicado no solo (via raiz), com efeito sistêmico real na planta.
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Compostos sintéticos e antibióticos → geralmente injetados no tronco.
Ou seja: a única abordagem natural que mostrou efeito consistente em planta inteira até agora foi o extrato de carvalho via raiz. Os outros ainda estão em fase inicial, mais no nível de laboratório/discos foliares.
Fontes:
1. Extratos de orégano, canela, cúrcuma, tomilho e Christmas bush
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Fonte: Zhang et al., 2023 – Microorganisms (MDPI).
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Título: Evaluation of Plant Extracts as Potential Antimicrobials against Candidatus Liberibacter asiaticus Associated with Citrus Greening Disease.
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Resumo: Extratos aplicados em discos foliares infectados mostraram forte atividade antimicrobiana; orégano, cúrcuma e canela superaram a estreptomicina em reduzir CLas.
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Link: MDPI - Microorganisms
2. Extrato aquoso de carvalho (Quercus hemisphaerica)
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Fonte: Hijaz et al., 2020 – Plant Physiology and Biochemistry.
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Título: Effect of oak leaf extract on “Candidatus Liberibacter asiaticus” titer and physiological parameters in citrus trees.
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Resumo: Aplicado via solo (irrigação); reduziu a carga bacteriana em plantas cítricas infectadas e melhorou clorofila, condutância estomática e absorção de nutrientes.
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PubMed: Link
3. Peptídeos antimicrobianos e compostos naturais adicionais
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Fonte: Lin et al., 2022 – Molecules (MDPI).
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Título: Antimicrobial Peptides as Potential Therapeutics for Huanglongbing (Citrus Greening Disease).
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Resumo: Estudou AMPs (plantaricin JLA-9, darobactin etc.) contra L. crescens (bactéria modelo para CLas). Aplicações em laboratório mostraram atividade promissora.
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Link: MDPI - Molecules
4. Compostos diversos (naturais e sintéticos)
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Fonte: Zhang et al., 2018 – Frontiers in Plant Science.
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Título: Management of Citrus Huanglongbing via Trunk Injection of Plant Defense Activators and Antibiotics.
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Resumo: Inclui antibióticos e também compostos naturais como óleos essenciais (CARV, PCY). Aplicação por injeção no tronco e pulverização. Alguns apresentaram baixa toxicidade e redução do CLas.
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Link: PMC
📌 Em resumo:
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Discos foliares: orégano, cúrcuma, canela, tomilho, Christmas bush.
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Raiz/solo: carvalho (efeito mais consistente em planta inteira).
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Tronco: antibióticos + óleos essenciais (experimental).
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