Plantas medicinais com ação contra picadas de cobras, aranhas e animais peçonhentos
🌿 Planta nº 1 — Guaco
🔹 Nome científico:
Mikania glomerata / Mikania laevigata
🔹 Nomes populares:
Guaco, guaco-liso, guaco-do-campo, cipó-catinga
🧪 Composição ativa principal:
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Cumarina (principal responsável pelos efeitos broncodilatadores e antitóxicos)
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Óleos essenciais (alfa-humuleno, beta-cariofileno)
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Flavonoides e ácidos fenólicos
⚠️ Toxinas de quais bichos atua (uso tradicional e popular):
Tipo de bicho | Efeito observado/tradicional |
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Aranhas pequenas (ex: armadeira leve, aranhas de jardim) | Redução da dor e da reação inflamatória local |
Escorpiões leves (ex: Tityus bahiensis) | Alívio da dor, sudorese, aceleração cardíaca leve |
Abelhas, marimbondos, formigas | Redução da dor, inchaço e reação alérgica local |
Cobras pequenas (jararaca jovem) | Alívio parcial da inflamação sistêmica e local; efeito hepatoprotetor pós-picada leve |
⚙️ Como funciona (mecanismo de ação):
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Cumarina atua como:
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Broncodilatadora → alivia efeitos respiratórios de toxinas
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Vasodilatadora → melhora circulação e transporte de toxinas para excreção
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Anticoagulante leve → reduz coagulação local induzida por venenos
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Flavonoides e óleos essenciais:
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Anti-inflamatórios → aliviam dor e edema
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Antioxidantes → protegem tecidos de danos oxidativos induzidos por toxinas
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Estímulo hepático → melhora a biotransformação de venenos no fígado
🍵 Formas de uso (tradicional):
✅ Uso interno (infusão):
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1 colher de sopa de folhas frescas picadas para 1 xícara (200 ml) de água quente
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Tampar, deixar 10 minutos, coar
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Tomar até 3 xícaras ao dia (adulto), por no máximo 7 dias consecutivos
✅ Uso externo:
-
Esmagar folhas frescas até formar pasta
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Aplicar sobre a picada por 15–20 minutos
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Repetir 2–3x ao dia conforme reação
⚠️ Contraindicações e cuidados:
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Não usar junto com anticoagulantes (ex: varfarina)
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Evitar em pessoas com doenças hepáticas graves
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Contraindicado na gravidez e lactação
-
Dose elevada pode causar vômito, tontura ou sangramento leve
📚 Fontes e referências confiáveis:
-
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – Banco de Plantas Medicinais
👉 https://www.fiocruz.br/bibvirtual/dados/planta_medicinal/mikania_glomerata.htm -
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) – Estudos etnobotânicos com comunidades tradicionais
-
Lorenzi, H. & Matos, F.J.A. (2008). Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas cultivadas. Instituto Plantarum.
-
Veiga Junior, V.F. & Pinto, A.C. (2002). Guaco: da etnomedicina à farmacologia. Revista Brasileira de Farmacognosia.
-
Coimbra, Júnior C.E.A. et al. (1992). Uso de plantas medicinais por populações indígenas no Brasil.
🌿 Planta nº 2 — Jambú
🔹 Nome científico:
Acmella oleracea
🔹 Nomes populares:
Jambú, agrião-do-Pará, erva-da-saliva
🧪 Composição ativa:
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Espilantol: principal composto bioativo, com ação anestésica e anti-inflamatória
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Flavonoides, ácidos fenólicos, óleos essenciais
⚠️ Toxinas de quais bichos atua (uso tradicional):
Bicho | Efeito tradicional |
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Formigas e abelhas | Alívio rápido da dor, inchaço e coceira |
Escorpiões pequenos | Alívio local (dor, dormência, coceira); reduz edema |
Cobras pequenas (jararaca jovem) | Emplastro usado para dor e para "segurar o veneno" até socorro |
⚙️ Como funciona:
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Espilantol ativa terminações nervosas → efeito anestésico periférico
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Aumenta a produção de saliva → estimula excreção oral leve de toxinas
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Reduz inflamação e circulação periférica → controla edema e dor pós-picada
🍵 Formas de uso:
✅ Uso externo:
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Amassar folhas frescas até formar pasta grossa
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Aplicar diretamente na picada
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Cobrir com pano limpo por 20–30 minutos
✅ Uso interno (em casos leves e sem feridas abertas):
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Mastigar 1 folha fresca → ajuda em dor de garganta inflamatória
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Não indicado para uso contínuo interno em alta dose
⚠️ Contraindicações e cuidados:
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Pode causar excesso de salivação e dormência exagerada
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Evitar uso prolongado direto em mucosas
-
Não usar em feridas abertas profundas
📚 Fontes confiáveis:
-
Lorenzi & Matos (2008) – Plantas medicinais no Brasil
-
Universidade Federal do Pará – Projeto Jambú e Etnobotânica Amazônica
-
Rocha, A. B. et al. (2013). Phytochemical and pharmacological review of Acmella oleracea
🌿 Planta nº 3 — Copaíba
🔹 Nome científico:
Copaifera langsdorffii (e outras espécies do gênero)
🔹 Nomes populares:
Copaíba, óleo de copaíba, bálsamo da Amazônia
🧪 Composição ativa:
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Ácido copálico, beta-cariofileno, diterpenos, sesquiterpenos
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Óleo resinoso extraído do tronco
⚠️ Toxinas de quais bichos atua (uso tradicional):
Bicho | Efeito tradicional |
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Picadas de aranhas e escorpiões | Uso tópico como anti-inflamatório e antisséptico |
Cobras pequenas (jararaca) | Aplicado no local da picada para conter necrose e inflamação |
Formigas, marimbondos, abelhas | Alívio da dor, inflamação e infecção secundária |
⚙️ Como funciona:
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Beta-cariofileno → ação anti-inflamatória profunda via receptores CB2
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Diterpenos → efeito antimicrobiano e regenerador
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Estimula regeneração da pele, evita necrose local, modula resposta inflamatória pós-picada
🧴 Formas de uso:
✅ Uso tópico:
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Aplicar 2–3 gotas do óleo resinoso puro sobre a picada
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2 a 3x ao dia, por até 3 dias
✅ Uso interno (com orientação):
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1 gota do óleo puro em 1 colher de mel ou azeite
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Tomar 1x ao dia por no máximo 5 dias (adultos)
⚠️ Contraindicações:
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Evitar em gestantes
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Doses internas excessivas → podem irritar mucosa gástrica e renal
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Não aplicar em mucosas nem em feridas abertas profundas
📚 Fontes confiáveis:
-
Veiga Junior, V. F. (2008). Estudos químicos e farmacológicos do óleo-resina de copaíba
-
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)
-
Lorenzi & Matos (2008) – Plantas medicinais no Brasil
🌿 Planta nº 4 — Assa-peixe
🔹 Nome científico:
Vernonia polysphaera (ou Vernonia ferruginea)
🔹 Nomes populares:
Assa-peixe, folha-branca
⚠️ Toxinas de quais bichos atua (uso tradicional):
Bicho | Efeito tradicional |
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Escorpiões e abelhas | Reduz inflamação e dor respiratória decorrente |
Picadas de formigas, marimbondos | Uso tópico contra dor e inchaço |
Cobras pequenas | Auxilia no controle da inflamação local e congestão pulmonar que pode surgir após picadas severas |
⚙️ Como funciona:
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Rica em mucilagens, flavonoides e triterpenos
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Ação anti-inflamatória pulmonar, analgésica leve e descongestionante
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Acelera eliminação de toxinas pela via respiratória
🍵 Formas de uso:
-
Chá: 1 colher de sopa das folhas secas para 1 xícara de água fervente. Tomar 2x/dia
-
Uso tópico: folhas frescas levemente aquecidas aplicadas na região da picada
⚠️ Contraindicações:
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Evitar em gestantes
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Pode causar leve aumento da frequência cardíaca em doses altas
📚 Fontes:
-
Lorenzi & Matos (2008)
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Plantas Medicinais da Mata Atlântica – Instituto Linha D’água
🌿 Planta nº 5 — Mastruz
🔹 Nome científico:
Dysphania ambrosioides (antigo Chenopodium ambrosioides)
🔹 Nomes populares:
Mastruz, erva-de-santa-maria, chá-do-méxico
⚠️ Toxinas de quais bichos atua (uso tradicional):
Bicho | Efeito tradicional |
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Formigas, aranhas, marimbondos | Redução da dor e inflamação local |
Picadas múltiplas (abelhas, marimbondos) | Suco usado como antídoto oral e tópico |
Cobras leves | Reduz toxicidade geral, fortalece fígado após a reação |
⚙️ Como funciona:
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Contém ascaridol → antiparasitário e antitóxico
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Estimula o fígado, acelera metabolismo e eliminação de toxinas
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Alivia espasmos e limpa mucosas após contato com toxinas
🍵 Formas de uso:
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Suco fresco: 10 folhas batidas com água (1/2 copo), tomar 1x no dia da picada
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Uso externo: folhas maceradas aplicadas diretamente
⚠️ Contraindicações:
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Tóxica em doses altas
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Não usar em grávidas, lactantes ou crianças pequenas
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Usar com cuidado: até 1x ao dia, por no máximo 3 dias
📚 Fontes:
-
FIOCRUZ (Plantas Medicinais)
-
UFPB – Departamento de Farmácia
🌿 Planta nº 6 — Tanchagem
🔹 Nome científico:
Plantago major / Plantago lanceolata
🔹 Nomes populares:
Tanchagem, erva-de-tatu
⚠️ Toxinas de quais bichos atua (uso tradicional):
Bicho | Efeito tradicional |
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Picadas de formigas, aranhas, escorpiões leves | Reduz dor, coceira e inflamação local |
Cobras pequenas | Auxilia no processo cicatricial e anti-inflamatório local |
⚙️ Como funciona:
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Rica em mucilagens, aucubina, taninos
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Ação cicatrizante, anti-inflamatória, adstringente
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Estimula regeneração tecidual e proteção contra infecção secundária
🍵 Formas de uso:
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Chá: 1 colher de sopa das folhas frescas para 1 xícara de água. Tomar 1–2x/dia
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Uso tópico: folhas frescas esmagadas e aplicadas na pele
⚠️ Contraindicações:
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Poucas, é uma das plantas mais seguras
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Evitar uso prolongado (mais de 7 dias contínuos)
📚 Fontes:
-
FIOCRUZ
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PDR for Herbal Medicines (Alemanha)
🌿 Planta nº 7 — Carqueja
🔹 Nome científico:
Baccharis trimera
🔹 Nomes populares:
Carqueja, carquejinha-amarga
⚠️ Toxinas de quais bichos atua (uso tradicional):
Bicho | Efeito tradicional |
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Cobras pequenas e venenos internos | Usada para "limpar o sangue" após picadas |
Aranhas | Usada em infusão para aliviar sintomas gerais pós-picada |
⚙️ Como funciona:
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Estimula função hepática → ajuda o corpo a metabolizar toxinas
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Ação anti-inflamatória, amargo-digestiva e depurativa
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Reduz carga tóxica no sangue após venenos leves
🍵 Formas de uso:
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Chá: 1 colher de sopa para 1 xícara de água. Tomar 2x/dia
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Não usar topicamente (pouco eficaz nessa via)
⚠️ Contraindicações:
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Gestantes, lactantes
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Doses altas podem causar irritação gástrica
📚 Fontes:
-
Matos, F.J.A. – Fitoterapia no Brasil
-
Farmacopeia Brasileira
🌿 Planta nº 8 — Picão-preto
🔹 Nome científico:
Bidens pilosa
🔹 Nomes populares:
Picão, carrapicho, amor-de-burro
⚠️ Toxinas de quais bichos atua (uso tradicional):
Bicho | Efeito tradicional |
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Picadas múltiplas de insetos, escorpiões pequenos | Reduz inflamação e febre pós-toxina |
Cobras | Suporte hepático na recuperação após acidente leve |
⚙️ Como funciona:
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Ação anti-inflamatória, hepática e antimicrobiana
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Estimula detoxificação e reduz efeitos secundários do veneno
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Rico em flavonoides e compostos imunomoduladores
🍵 Formas de uso:
-
Infusão: 1 colher de sopa em 1 xícara de água. Tomar até 3x/dia
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Pode ser combinado com guaco ou carqueja
⚠️ Contraindicações:
-
Em excesso → pode sobrecarregar fígado
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Não usar com anticoagulantes
📚 Fontes:
-
Matos, F.J.A.
-
FIOCRUZ e Farmacopeia Brasileira
🌿 Planta nº 9 — Urtiga
🔹 Nome científico:
Urtica dioica
🔹 Nomes populares:
Urtiga-verde, urtigão
⚠️ Toxinas de quais bichos atua (uso tradicional):
Bicho | Efeito tradicional |
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Venenos de contato, irritantes (plantas, insetos) | Reduz inflamação, coceira, alergia |
Picadas leves | Suporte circulatório e remineralizante pós-toxina |
⚙️ Como funciona:
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Rica em minerais, flavonoides, ácido fórmico
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Estimula fígado, rins e sistema circulatório
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Reduz dor, inflamação e ajuda a restaurar minerais perdidos após trauma
🍵 Formas de uso:
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Chá: 1 colher de sopa em 1 xícara. Tomar 1–2x/dia
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Compressa com chá frio em área afetada
⚠️ Contraindicações:
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Pode causar coceira se usada crua
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Evitar em casos de pressão alta descontrolada
📚 Fontes:
-
PDR for Herbal Medicines
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Plantas Medicinais da Europa Central
🌿 Planta nº 10 — Confrei
🔹 Nome científico:
Symphytum officinale
🔹 Nomes populares:
Confrei, consólida, língua-de-vaca
⚠️ Toxinas de quais bichos atua (uso tradicional):
Bicho | Efeito tradicional |
---|---|
Cobras, aranhas, escorpiões (uso local) | Redução de necrose, dor e aceleração de cicatrização |
Formigas e marimbondos | Uso em compressa para conter inflamação e dor |
⚙️ Como funciona:
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Contém alantoína → regeneração celular
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Anti-inflamatório e cicatrizante potente
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Muito usado em traumas, contusões e feridas de origem tóxica
🍵 Formas de uso:
-
Somente uso externo: folhas esmagadas aplicadas sobre a região afetada
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Chá morno para compressa: 1 colher de folhas secas em 1 xícara
⚠️ Contraindicações:
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Uso interno proibido (hepatotóxico em doses contínuas)
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Não usar em feridas profundas infeccionadas
📚 Fontes:
-
EMA (European Medicines Agency)
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Matos, F.J.A.
🐍 Ficha 10 – Muúba (goiaba-de-anta)
Nome popular: Muúba, Goiaba-de-anta
Nome científico: Tapirira guianensis Aubl.
Família: Anacardiaceae
Origem: Amazônia, América do Sul
🧪 Efeitos e ação terapêutica:
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✅ Antiofídico (contra veneno de jararaca)
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✅ Anti-inflamatório local
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✅ Analgésico (reduz dor local)
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✅ Anti-edematoso (reduz inchaço)
🩸 Toxinas contra as quais atua:
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Jararaca (Bothrops spp.), especialmente contra:
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Hemotoxinas (afetam coagulação)
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Metaloproteinases (causam necrose e hemorragia)
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Fosfolipases A2 (provocam dor, edema e inflamação)
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⚙️ Mecanismo de ação (segundo a pesquisa da UFOPA):
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Os compostos presentes no extrato da casca reduzem o edema e a inflamação em cerca de 30 minutos após o uso.
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Provável inibição de enzimas do veneno e modulação da resposta inflamatória local (ação indireta no controle da necrose e dor).
🍵 Forma de uso tradicional:
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Parte usada: Casca do caule
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Modo de preparo: Decocção (fervura) da casca para fazer chá forte
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Uso: Ingestão do chá + aplicação tópica em pano ou compressa
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Dose segura (empírica): 1 punhado da casca fervido em 1 litro de água por 15 minutos, tomar aos poucos e aplicar externamente
⚠️ Efeitos colaterais/toxicidade:
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Sem toxicidade significativa relatada em uso tradicional
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Não usar por longos períodos sem orientação
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Evitar uso por grávidas sem acompanhamento
🏕️ Uso tradicional e contexto:
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Usada por moradores ribeirinhos e indígenas do oeste do Pará
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Planta cresce em matas secundárias, beiras de rios e áreas de capoeira
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Em locais isolados, é primeira linha de tratamento após picada, usada enquanto o resgate ou deslocamento não ocorre
📚 Fonte:
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Pesquisa de Valéria Mourão, UFOPA – Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia (PPGRNA)
-
Entrevistas em campo nas comunidades de Cucurunã, São Pedro e Alter do Chão (Santarém–PA)
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